sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Alabama Monroe - The broken circle breakdown



  Esse premiadíssimo filme belga conta a história da família formada por Didier, um tocador de banjo ateu, Elise, uma tatuadora religiosa, e de Maybelle, a filha do casal. A trama começa a se desenvolver quando Maybelle, que é o centro da vida dos pais, adoece gravemente, e a fé, a esperança e a sanidade do casal é posta a prova.
  No filme nós vemos duas linhas temporais, uma linha mostra a felicidade sendo construída e a outra mostra como ela é quebrada. As duas linhas são contadas simultaneamente para nos tirar a esperança de um final feliz, porque bem antes do final nós já percebemos que a felicidade se afasta a cada minuto decorrido do filme.  
  Alabama Monroe pergunta: e se o que é mais importante para nós nos fosse tirado, o que faríamos para continuar? E nos mostra que independente do caminho escolhido, traçamos a mesma trilha de dor.

 Destaque:

  • Destaque para para a maravilhosa trilha sonora, que é tocada pelos próprios atores, e principalmente para Wayfaring stranger, que eu gostei mais do que a versão original, e olha que a versão original é do Johnny Cash.

 Direção: Felix Van Groeningen
 País de origem: Bélgica
 Ano: 2014
 Minha nota: 9/10


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Underground - Mentiras de guerra

  


  O melhor filme de um dos diretores mais originais do cinema mundial. Alem de ganhar a Palma de Ouro, Underground também é considerado o melhor filme do leste europeu.
 Quando a Alemanha invade a extinta Iugoslávia, Marko e Crni são procurados por roubar armas dos nazistas. E com Belgrado sendo bombardeado pelos aliados e pelos nazistas, seus familiares e amigos se escondem em um abrigo, onde ficam durante 20 anos fabricando armas para auxiliar a resistência... Pelo menos é isso o que eles pensam. Na verdade a guerra já acabou a muitos anos, mas Marko os engana com o intuito de traficar as armas.
   Mesmo que esteja ocorrendo uma guerra, um velório ou uma invasão nazista sempre tem uma puta festa rolando entre bombas e tiroteios nos filmes do Emir Kusturica, provavelmente o único diretor que conseguiria contar a história da destruição de uma nação na forma de uma hilária fábula. 

 Destaques:

  • A incessante e extremamente animada trilha sonora.
  • A construção dos personagens, que de tão excêntricos é difícil escolher qual o mais são entre eles.

 Direção: Emir Kusturica
 Ano: 1995
 Países de origem: Bulgária, Hungria, Alemanha, França, Republica Tcheca e Iugoslávia
 Minha nota:9.5/10
  
  
  

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

As virgens suicidas - The virgins suicides

  

 Filme de estreia da diretora Sofia Coppola, que já demonstrava seu talento em transpassar uma extrema sensibilidade, que de tão espessa é quase palpável.
  O filme narra a história da obsessão de um grupo de adolescentes para descobrir o motivo dos suicídios das irmãs Lisbon, que aliás já eram a obsessão deles mesmo antes de seus trágicos finais.
 O roteiro, a fotografia, o figurino e todo o resto do filme cria uma atmosfera que te faz pensar que o tempo voltou aos anos 70, e que você é só mais um dos observadores de cada movimento das irmãs Lisbon, principalmente da irmã interpretada pela Kirsten Dunst. 
 Os suicídios, que para os garotos representa o fim da inocência, a transição para o mundo adulto, pode também representar o que nunca conseguiremos alcançar. Pode ser um amor não correspondido, a lembrança de alguém que nunca voltaremos a ver, ou a estranha saudade melancólica de algo que nunca conhecemos. 
 Sofia Coppola não poderia ter escolhido um livro melhor para adaptar, pois nele tudo que é sensível em nós é exposto, tudo que tentamos esconder é revelado, somos apenas adolescentes inseguros, sentados em frente a casa dos Lisbon, esperando ansiosamente até que uma das irmãs apareça.


 Destaques:
  •  Dar destaque a direção de atores da Sofia Coppola é até redundante, já que isso também é demonstrado em seus outros filmes, mas mesmo assim é um destaque inevitável. 
  •  Um dos melhores roteiros adaptados que eu já vi, que aliás também foi escrito pela Sofia Coppola. E se está parecendo que eu puxo o saco dela é porque eu puxo mesmo.  

♥ ♥ ♥ ♥ ♥  ♥ ♥ ♥ ♥ ♥


 Direção: Sofia Coppola
 Ano: 1999
 País de origem: Estados Unidos
 Minha nota: 8.5/10


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Garota sombria caminha pela noite - A girl walks home alone at night



  Na sombria cidade de Bad City (nome descaradamente autoexplicativo), em meio a degeneração geral, vivem os dois personagens centrais: Arash e uma vampira solitária. Enquanto Arash passa seus dias trabalhando e cuidando do pai viciado, a vampira misteriosa passa suas noites atacando e assustando os decadentes cidadãos desta cidade.
  A belíssima fotografia preto e branco implementa o ar taciturno do filme, mas o destaque é a trilha sonora, porque o filme, em sua maior parte, fica emergido num clima melancólico, e é a música que diferencia as emoções demonstradas no momento.
  Todos os elementos juntos se transformaram em uma bela obra artística. Até o caso romântico dos personagens foi muito bem encaixado, e aliás, filmes de vampiros podem ter um romance e não ter referências de Crepúsculo, pois o romance está entre os vampiros cinematográficos desde Nosferatu.
  Apesar da história se passar no Irã e ser interpretada por atores Iranianos, essa mistura de terror e western foi gravada nos Estados Unidos. E mesmo trazendo elementos que parecem ter sido esquecidos dos filmes de vampiros, como a escuridão, a maldade e a falta de remorso por matar, ele consegue inovar com uma vampira que dança sozinha, escuta Lionel Richie, e que na verdade não caminha, mas anda de skate pela noite.

 Destaque:
  • O filme foi classificado como um "filme de arte" porque é impossível não reparar no trabalho perfeito de fotografia e direção de arte.

 Direção: Ana Lily Amirpour
 Ano: 2015
 Países de origem: Estados Unidos e Irã
 Minha nota: 9/10


domingo, 9 de outubro de 2016

Crash - Estranhos prazeres





 David Cronenberg novamente demonstra a obsessiva busca ao prazer a qualquer custo através do uso das afrontas e das mesclas do artificial ao humano.
 James e sua esposa tem, mesmo para as pessoas mais libertinas, preferências sexuais no minimo excêntricas, mas após sofrer um acidente automobilístico, James conhece um grupo de pessoas que sentem prazer sexual assistindo e encenando acidentes de carro, e eles cultuam cicatrizes e mutilações causadas por esses acidentes. James é automaticamente atraído pelo grupo, mas essa incessante busca a acidentes exige de James e de sua esposa uma doação emocional, que mesmo sendo excitante e prazerosa, consome muito mais do que eles imaginavam.
  Crash usa como metáfora um dos nossos instintos mais primitivos, e mesmo usando de cenas sexuais realistas a delicados e pequenos gestos provocantes, como deslizar as mãos por um para-choque acidentado ou por um volante, o filme mantem desde a primeira cena um clima extremamente sensual e perturbador, que choca até os mais imorais.


 Destaque:

  • Todas as atuações são maravilhosas, e mesmo com a sempre impecável Holly Hunter no elenco, quem mais me chamou atenção foi a Deborah Kara Unger, que consegue expressar juntamente a sensualidade e o sofrimento por ser escrava de seus prazeres.

 Direção: David Cronenberg
 Ano: 1996
 Países de origem: Canadá e Reino Unido
 Minha nota: 9.5/10

  

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

The Rocky Horror Picture Show



  Filme baseado na peça teatral de mesmo nome, é um exemplo de originalidade mesmo fazendo inúmeras referências a filmes de horror e sci-fis dos anos 30 até os 50.
  O filme conta a história dos noivos Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon), que viajavam tranquilamente de carro até que um de seus pneus fura e eles ficam no meio da estrada, em uma tempestade noturna. Eles decidem pedir ajuda em um sinistro castelo, decisão essa que mudará completamente suas vidas, pois eles descobrem que o anfitrião é um cientista travesti, e naquela noite estará apresentando sua mais nova criação, Rocky, um loiro musculoso criado para a exclusiva finalidade de satisfazer seus desejos sexuais.
  Cultuado por gerações, esse sci-fi/ comédia/ horror/ musical se popularizou nas sessões da meia noite americanas, e o papel do Dr. Frank n Furter, que o Tim Curry interpretou brilhantemente, foi desejado até por Mick Jagger.
  Filme claramente voltado ao público lado B, RHPS tem marginais, travestis, bisexuais, reprimidos sexulmente, ets e tudo de mais inesperado possível, e no meio da conturbada década de 70, ele deixa clara uma mensagem (principalmente na última música) que hoje é um pouco batida e repetitiva, mas que era inovadora na época: Don't dream it, be it!

Destaque:

  • Minha cena de abertura preferida e uma das mais famosas do cinema. Ela te faz pensar que se o filme começa assim, com certeza o restante deve ser bem excêntrico.


Direção: Jim Sharman
Ano: 1975
País de origem: Inglaterra
Minha nota: 8/ 10



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Poucos de nós - Few of us


  


   Este talvez seja o filme mais reflexivo do blog, ele parece se passar num universo paralelo ao nosso, um universo com uma realidade invertida, onde tudo é sombriamente emotivo, onde referências temporais e diálogos são dispensáveis.
  O vazio existencial é sempre o protagonista nos filmes do diretor Sharunas Bartas, mas em Poucos de nós o vazio é ainda mais completo, o vazio dos diálogos, das paisagens, dos cenários e de seus personagens. O filme não parece querer nos contar uma história, ele quer nos emergir em sua atmosfera extrassensorial, que mesmo com seus incontáveis vazios, ele se faz parecer completo.
 Nos são apresentados inúmeros planos-sequências, que mostram uma Lituânia isolada da humanidade, perdida no tempo e em sua própria realidade melancólica, seus personagens condizem tão bem com esta melancolia que mais parecem objetos colocados calculadamente nos cenários, para implementar ainda mais essa insustentável atmosfera. 
 Obviamente este não é um filme fácil, independentemente de seu conhecimento cinematográfico, por conta de seus extensos planos-sequências, da ausência de diálogos e de seu ritmo quase inerte, Poucos de nós se torna enfadonho a maioria que o assiste. Então se você não gosta de filmes com ritmos arrastados não tente assistir a esse. 
 Obs: Esse trecho descreve muito bem a personagem principal: 
 O seu drama não era o drama do peso, mas da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.
 Milan Kundera - A insustentável leveza do ser

 Destaques:
  • Impossível não ficar impressionado com as belíssimas paisagens da Lituânia, com esse lugar como cenário e essa luz natural fica menos difícil fazer esse ótimo trabalho de fotografia. 
  • Sempre achei que a Yekaterina Golubeva conseguia dar um ar melancólico a qualquer cena em que aparecesse. 



Direção: Sharunas Bartas
Ano: 1996
País de origem: Lituânia
Minha nota: 9/10



quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Angustia - Anguish - Os olhos da cidade são meus




  Metalinguagem pura, exige extrema atenção pois (assim como muitos dos filmes do blog) Angustia abusa do surrealismo e da psicodelia, causando irreparáveis danos ao seu senso de realidade.
  A primeira meia hora do filme incomoda de uma forma inexplicável, causa um estranhamento, uma apreensão sufocante, que com certeza é causada pela Zelda Rubinstein, que com aquela voz de coisa sobrenatural assombrou uma boa parte dos meus pesadelos de infância. Não tinha Hellraiser, Pennywise ou Michael Myers que me apavorava mais do que essa mulher em Poltergeist dizendo: Vá para a luz, Carol Anne.
  Mas em Angustia é pior ainda, ela não conduz menininhas que entraram pela tv em um plano astral diferente a encontrar o caminho de volta, ela hipnotiza e manipula seu filho a matar e trazer os olhos das vítimas para ela!
  E nesse filme eu vi uma das maiores reviravoltas do cinema..., SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, a história da hipnose é um filme! Ela é um filme dentro do filme. Em angústia os personagens estão assistindo este filme no cinema (quem já leu Shakespeare com suas peças de teatro dentro das peças de teatro vai entender melhor) e isso só nos é mostrado lá pros 20 minutos de filme. 
  E quando sabemos a verdadeira história do filme é que fode tudo de uma vez, por que a hipnose do filme de manipular pessoas para matar funciona para algumas pessoas que o assistem, ou seja, tem um assassino no cinema sendo comandado pela hipnose mostrada pelo filme. E como as duas histórias são mostradas paralelamente seu subconsciente vai se retorcer e misturar o filme com o filme do filme, o assassino real com o cinematográfico. Pena que eu não era nem nascida na estréia do filme, porque deve ter sido legal ir no cinema assistir um filme que mostra um filme dentro de outro filme.     FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER,FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER.     Angustia brinca tanto com nossa mente que você vai achar que enfiou uma cartela inteira de LSD na boca e já não consegue separar o real do fictício.
  

Destaque:

  • O roteiro foi extremamente bem estruturado, quando estava assistindo ao filme comecei a procurar algumas lacunas no roteiro, já que com essa história complexa seria comum alguns buracos, mas não achei nenhuma. O trabalho de edição também é muito bom.

Direção: Bigas Lunas
País de origem: Espanha
Ano: 1987
Minha nota: 9/10


quinta-feira, 21 de julho de 2016

A máquina




  E finalmente um filme brasileiro, não é por falta de opção que não postei antes, mas sim porque felizmente eles são fáceis de achar online.
  Apesar do título o filme mal fala da máquina, criada por Antônio (Gustavo Falcão) com o objetivo de trazer o mundo para a cidade de Nordestina, e assim convencer sua amada Karina (Mariana Ximenes) a não sair para conhecer a vida fora de sua cidade no meio do nada. Devido a um fato inusitado em sua infância Antônio acredita que é filho do tempo, e para trazer o mundo até Nordestina ele vai a um programa sensacionalista de tv e promete fazer uma viagem no tempo ao vivo, e que se não conseguisse uma máquina com 700 lâminas afiadas o atravessariam.
  O diretor João Falcão tirou a história do livro de sua esposa Adriana Falcão de uma forma tão surrealista que faz parecer que os cenários, intencionalmente artificiais, são ilustrações de livros 3d. A trama é narrada pelo roubador de cenas Paulo Autran, e no início do filme, que apresenta uma "complexa" explicação de criação do mundo, já reparamos que essa mistura de argumentos improváveis e surrealistas com a simplicidade da fala nordestina faz das conversas do filme um jogo de palavras poéticas, que conseguem transpassar a seriedade da vida dos migrantes nordestinos e nós transportar até a comédia das coisas simples da vida.

Destaque:
  • Não sei se o Rodrigo Amarante leu o livro A máquina, mas esses trechos da música descrevem perfeitamente o Antônio:
E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar
O que eu fiz
Quem então agora eu seria?

Sei do escândalo
E eles tem razão
Quando vem dizer
Que eu não sei medir
Nem tempo e nem medo

E se eu for o primeiro
A prever e poder 
Desistir do que for dar errado

Ahh, ora se não sou eu
Quem mais vai decidir
O que é bom pra mim
Dispenso a previsão


Direção: João Falcão
Ano: 2006
País de origem: Brasil
Minha nota: 8.5/10

  

sexta-feira, 1 de julho de 2016

O tambor - Die blechtrommel



 Após observar o mundo dos adultos Oskar decide parar de crescer e continuar como um garoto de três anos para sempre. O problema é que a terra do nunca de Oskar é a Alemanha, que está se tornando nazista, nos anos 30.
 Um pouco antes de sua drástica decisão, Oskar ganha um tambor, instrumento que o acompanha pelo resto da vida e que ninguém consegue retirar dele. Ele passa a maior parte de seus dias irritando parentes, vizinhos, professores e até atrapalhando comícios nazista com o seu tambor.
 Esse premiadíssimo filme alemão foi proibido em alguns países por conter cenas de sexo com uma criança. Talvez essas cenas causaram essa repercussão porque o David Bennent (ator que interpreta o Oskar), que tinha doze anos quando gravou o filme, permanecia com a aparência de uma criança de cinco ou seis anos.
 O filme é narrado por Oskar, com seu olhar misantrópico sobre o mundo, desde o inusitado momento em que seus avós se conheceram, até seus 21 anos. Apesar do foco ser a vida de Oskar e seu tambor, as entrelinhas são a natureza humana e politica, colocadas de tal forma que dá vontade de fazer o que o Oskar fez, fugir desse mundo de atritos absurdos e ir para o circo de anões.

Destaques:
  • Junto com Vá e veja (1985) é o filme mais interessante que eu já vi sobre 2° guerra mundial, pois ele mostra a manipulação politica sendo instalada aos poucos na população alemã.
  • A narrativa é muito original, ela dá um ar simultaneamente surreal e infantil ao filme.

 Direção: Volker Schlöndorff
 Ano: 1975
 Países de origem: Alemanha, França, Iugoslávia e Polônia
 Minha nota: 8.5/10  

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Vá e veja - Idi i smotri - Come and see



  Florya é um ingênuo jovem da Bielorrússia que resolve ir para guerra, ele perde a audição e a sanidade já na primeira explosão, e com o agravar da guerra perde todos e tudo que ainda possuía.
  Esse filme está presente em muitas das listas de filmes mais perturbadores já feitos, eu não o achei visualmente perturbador mas sim psicologicamente, já que mostra os lados mais viscerais da luta pela sobrevivência e  da maldade humana vistos através não de um soldado ou de alguém preparado para guerra (se é que existem pessoas realmente preparadas), mas sim através de um menino inocente, que foi obrigado a suportar agonias indescritíveis. 
  A interpretação extremamente expressiva do Aleksei Kravchenko (Florya) quase nos faz esquecer que se trata de um filme, parece um documentário sobre os traumas intensos da guerra, só que centralizado em um único personagem.
 Obs: Esse filme é expressamente desaconselhável para pessoas que se sensibilizam com facilidade, MAAAS, se quiser correr o risco "vá e veja". 


Destaques:
  • A trilha sonora impressiona tanto quanto o filme. O silêncio inexiste. Gritos, bombas, aviões e vários outros sons ensurdecedores parecem que estão tentando nos levar para um mundo com um vago vislumbre de realidade, o mundo a qual Florya pertence.
  • Junto com O tambor (1979), é o filme mais interessante sobre 2° guerra mundial que eu já vi.

 Direção: Elem Klimov
 Ano: 1985
 País de origem: Rússia
 Minha nota: 9.5/10

domingo, 24 de abril de 2016

A bruxa - The witch




 Eu ouvi muitos elogios sobre esse filme e resolvi assisti-lo, sem muita esperança, achando que seria mais uma daquelas propagandas extremamente enganosas sobre filmes de terror, e tive uma das maiores surpresas cinematográficas da minha vida.
 Esse não é um filme de "terror", não tem cenas violentas ou visualmente chocantes, você não tomará sustos, mas a qualidade em todos os quesitos colocou esse filme entre os melhores filmes de horror dos últimos tempos.
 A bruxa conta a história de uma família na Nova Inglaterra de 1600, que depois de ser expulsa de sua comunidade (o motivo não nos foi apresentado), foi morar em um local afastado, de frente para uma floresta sinistra. Logo ao chegarem já começam a acontecer coisas bizarras, o bebê da família some, a plantação apodrece e eu nem vou comentar sobre os animais estranhíssimos do filme (nunca mais conseguirei achar um coelho fofo), e a suspeita de bruxaria cai sobre a irmã mais velha Thomasin, que é maravilhosamente bem interpretada pela Anya Taylor Joy, que nem precisava de falas, pois ela consegue demonstrar completamente tudo com o olhar. Aliás, todos os personagens são muito bem interpretados, até os animais (os quais prefiro não comentar pra não cometer spoilers).
 O filme é cheio de detalhes sombrios, e o roteiro nos faz mudar de opinião várias vezes sobre o desfecho final. O clima de horror é implantado lentamente, tudo até o meio do filme é muito sútil, porque da metade adiante você percebe que o mal estava a espreita há muito tempo e que aquela família está abandonada a própria sorte, pois nenhum deus habita naquela floresta para ouvir suas preces.
 Obs: Se você acha que Jogos mortais é um clássico do terror, se nunca conseguiu assistir um filme do Hitchcock até o final e não entende porque muita gente adora O bebê de Rosemary, nem perca seu tempo dando play. Esse é um filme muito reflexivo, se você gosta de filme só pelos sustos e pelos peitos normalmente exibidos nesse tipo de filme você encontrará muitas opções em sites famosos de filmes online

Destaques:


  •  Tecnicamente impecável. A fotografia cinzenta vai ficando nitidamente cada vez mais escura com o evoluir da tensão do filme e a trilha sonora é perfeita, ela te envolve completamente na trama.
  • A direção do estreante Robert Eggers.

Direção: Robert Eggers
Ano: 2015
País de origem: Estados Unidos da América
Minha nota: 10/10



segunda-feira, 7 de março de 2016

Malpertuis




  Malpertuis é o nome da mansão onde se passa a trama, seu proprietário Cassavius (que é interpretado por Orson Welles) está a beira da morte e reune a família e os criados para a leitura de seu testamento, onde informa que todos terão direito a uma enorme herança desde que não saiam da Mansão. Cassavius também informa ao seu sobrinho Jan que ele deverá continuar o seu terrível "trabalho", sobre o qual é mantido segredo até a última cena. 
  Oniricamente sombrio, Malpertuis apresenta um surrealismo discreto mas que mesmo assim consegue ser surpreendentemente chocante. Não dá pra saber o que é real, já que o filme apresenta três realidades diferentes. E cada vez que Jan passa para outra realidade nós nos sentimos como num labirinto de um bizarro pesadelo, pois quanto mais tentamos sair, mais adentramos no desconhecido.


Destaques:


  •  Várias partes da história são muito abertas a interpretações, com certeza ninguém chega a mesma conclusão sobre este filme.
  •  A maravilhosa escolha das cores ajuda a dar um ar delirante as cenas.

 Direção: Harry Cumel
 País de origem: Bélgica
 Ano: 1971
 Minha nota: 9/10

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

E agora, aonde vamos? - Et maintenant on va ou



  Numa remota aldeia libanesa, rodeada por minas terrestres, vive uma comunidade que mesmo dividida pela religião consegue conviver em paz (até as primeiras cenas do filme). E já que a única ligação da aldeia com o mundo exterior é uma ponte, que quase ninguém se arrisca a atravessar por conta das minas, eles são obrigados a conviver entre si, pacificamente ou não. 
  A belíssima Nadine Labaki dirigiu, escreveu e atuou nessa sátira dramática sobre a sede de guerra dos homens, que arrumam motivos para se matarem enquanto suas mulheres tentam apaziguar tudo de todas as maneiras possíveis... todas mesmo, até com bolinhos de haxixe e prostitutas ucranianas. 
  Juntar a comédia ao drama, que parece ser uma tarefa árdua, é feito de uma forma tão natural neste filme que foi possível manter um equilíbrio muito bem dirigido, que não se afunda na melancolia da guerra nem se perde numa comédia forçada. 
  A graça do filme é o grupo de mulheres da comunidade, que já que não conseguem vencer a guerra tentam prolongar a trégua de qualquer forma.

Destaques:

  • A cena final é totalmente inesperada
  • As atuações de todo o elenco são muito boas

 Direção: Nadine Labaki
 País de origem: Líbano e França
 Ano: 2011
 Minha nota: 9/10

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Cecil Bem Demente - Cecil B. Demented

 Um filme dentro de um filme que crítica a indústria cinematográfica. 
 John Waters sempre fez filmes totalmente fora dos padrões americanos de cinema e Cecil B. Demented não foge a regra. Ele é imoral, indecente, apelativo e genial.
 O filme conta a história de um grupo de jovens cinéfilos que cansados com a indústria de filmes americanos resolvem fazer seu próprio filme de "realidade extrema" chamado Beleza fatal, filmado na vida real, com pessoas reais e claro, em Baltimore, assim como todos os filmes do diretor John Waters. E como diz o personagem título do filme: "Não há regras no cinema underground", então eles sequestram uma estrela de cinema e a forçam a atuar em seu filme, que conta a história de uma família que resolve destruir a indústria de cinema. 
 O interessante é que as cenas do Beleza fatal são reais, eles simplesmente invadem cinemas Multiplex, reuniões de diretores e drive-ins dizendo suas falas, atirando e filmando tudo.
 Extremamente anti-Hollywood esse filme não poderia ser feito por outra pessoa que não fosse o John Waters, o diretor mais underground do cinema.
 Obs: Este filme não é recomendado para fãs de Patch Adams.

 Destaque:

  • Um dos roteiros mais criativo que eu já vi.

 Direção: John Waters
 Ano: 2000
 País de origem: Estados Unidos da América
 Minha nota: 9/10


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O lar - Home



  Uma família jogando hoquéi na estrada em frente a casa deles, pode parecer uma cena atípica mas as cenas seguintes do filme mostram uma família ainda mais "diferente". Home mostra um casal e seus três filhos que moram em uma casa isolada da civilização, mas que fica na beira de uma estrada que está fechada desde sua construção. A estrada é usada como quintal da família até que, aparentemente sem aviso prévio, resolvem inaugurá-la.
  Um filme que mergulha na tentativa de controle da loucura de seus personagens, pois a família que parecia ser diferente, não pela excentricidade e sim pela normalidade com que levavam tudo, começa a desmanchar cena por cena a felicidade que mantinham juntos à partir de quando a estrada é inaugurada. Quando eles reparam que a inauguração finalmente acontecerá, vemos o primeiro grito, que depois passam a ser discussões e brigas com o progredir da estrada. Surgem janelas fechadas e cortinas onde antes só havia claridade e ar, e quando a estrada está em pleno funcionamento se torna impossível manter a mesma rotina, por causa do barulho ensurdecedor e da movimentação excessiva a família é obrigada a  se trancar cada vez mais na casa a procura de privacidade, e essa procura os leva a um enclausuramento agoniante.
  É o micro representando o macro em um road movie imóvel.

Destaque:

  • Isabelle Huppert, que como sempre está  extraordinariamente elegante e sutil.

Direção: Ursula Meier
Ano: 2008
País de origem: França e Suiça
Minha nota: 9.5/10

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Asas do desejo - Der Himmel Uber Berlin - Wings of Desire



  Um dos mais belos filmes que já vi, ele é praticamente composto por reflexões intensas de transeuntes em Berlim.
  Neste filme os anjos são expectadores da vida humana desde o surgimento da terra, eles podem ouvir claramente até nossos pensamentos mais ocultos e tentam nos auxiliar com suas presenças. Essa é a contrariedade do filme, os anjos não sentem, nunca choraram, amaram ou sentiram dor e é exatamente nessas questões que eles interferem, mesmo com milhares de anos de vida eles se surpreendem com feitos humanos porque não entendem o que sentimos, até que o anjo Damiel decide vir para o outro lado.
  Damiel conhece um ex-anjo, que mesmo não podendo vê-lo pode senti-lo, este "homem" conta como é a experiência de sentir tudo, desde o prazer de desenhar até a sensação de esfregar as mãos para aquece-las, e quando Damiel resolve vir para este plano e começa a experimentar todas as sensações eu pensei: E se lembrássemos da primeira vez que vimos o céu? E se lembrássemos da primeira vez que sentimos o cheiro de flores ou que sentimos o gosto de algo doce? Será que seríamos felizes como Damiel por ter um mundo de sensações a ser explorado ou seriamos exatamente como somos?
  Reflexões à parte este filme é uma obra  prima do cinema alemão, que é bem conhecido por seu cinema sério, com roteiros profundos. Se eu tivesse que definir esse filme com apenas uma palavra, essa palavra seria intensidade.
  Obs: Sim, o filme americano Cidade dos anjos foi baseado neste filme, mas apesar da história os dois filmes são completamente diferentes.



Destaque:


  • Tem uma espécie de poema que é declamado em algumas partes do filme que conta como as crianças, mesmo com frases simples, de fácil elaboração, questionam muito mais o motivo da nossa existência do que os adultos, que provavelmente se cansaram da falta de resposta e se adaptaram a sociedade conformista.

  Direção: Wim Wenders
  Ano: 1987
  País de origem: Alemanha
  Minha nota: 9/10