domingo, 12 de abril de 2020

Phenomena





 Dario Argento, tentando seguir a moda dos slashers americanos oitentistas, escreveu, produziu e dirigiu Phenomena, que mesmo com possivelmente o enredo mais utilizado nos filmes de terror dos anos 70 e 80 (seriall killer de adolescentes), deixa em evidência a extrema originalidade de Argento, que nunca fez um filme que não seja no mínimo esquisito pra caralho.
 Jennifer (Jennifer Connely) é uma adolescente americana que vai estudar em uma escola para meninas na Suíça. Logo após sua chegada ela é informada pela colega de quarto, uma estereotipada francesa, que há um assassino de garotas que assombra aquela região. Jennifer, que é sonâmbula, é ajudada após um de seus passeios sonâmbulos noturnos, por um famoso entomologista, que nota que a garota tem uma telepática ligação com insetos e que isso pode auxiliar muito na sua investigação para descobrir quem é o assassino.
 Um giallo com toques de slasher e de conto de fadas, que como quase todos os outros giallos que eu já vi tem problemas de narrativa e péssimas atuações dos coadjuvantes, mas que compensa esses fatos com uma extremamente bem construída atmosfera sombria e uma belíssima direção de arte. 
  Argento adora apresentar contrastes extremos em suas obras e em Phenomena ele utilizou inumeráveis insetos e vermes, que são completamente adversos a beleza hipnotizante da protagonista. As opiniões sobre esse filme também costumam contrastar bastante, eu gosto de filmes com uma narrativa precisa e sem pontas soltas, mas gosto mais ainda de filmes sensitivos, onde somos absorvidos por uma sinistra atmosfera sobrenatural, e para mim não existe diretor melhor em conseguir tal feito como o mestre do terror Dario Argento.
 Obs: Eu realmente gostaria de saber porque o Argento gosta tanto de quebrar janelas.
 Obs2: Se você não tem estômago forte é melhor evitar este filme. As cenas finais são de fazer até os mais carniceiros cinéfilos ficarem com o estômago embrulhado.

Direção: Dario Argento
País: Itália
Ano: 1985
Minha nota: 7,5/10

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O desprezo - Le Mépris





 Considerados por alguns o maior diretor da história do cinema (e por muitos o diretor dos filmes mais chatos), Jean-Luc Godard, em um de seus melhores filmes, nos conta a história de como uma simples atitude pode nos fazer criar o sentimento mais duro e irremediável de todos, o desprezo.
 No filme vemos que o famosíssimo diretor Fritz Lang, que interpreta ele mesmo, está dirigindo um filme que conta a história de A odisseia, mas um produtor americano, preocupado com a lucratividade do filme, contrata o roteirista Paul, e lhe dá a tarefa de deixar o filme menos artístico e mais comercial. O arrogante produtor americano interessa-se instantaneamente por Camille, a esposa de Paul, e a atitude de Paul referente a esse interesse causa em Camille o mais profundo e intenso desprezo. 
 Esse é o filme mais facilmente compreensível do diretor mais incompreendido da história do cinema. O desprezo tem uma narrativa com várias metáforas mas a linearidade que ele apresenta é algo raro nos filmes do Godard. Os filmes do Godard foram o meu primeiro contato com filmes franceses e para mim foi extraordinária a ideia das metáforas, metalinguagem, dualidades e falta de linearidade, pareceu-me que tudo era possível no cinema. Eu fui tirada da zona de conforto de filmes americanos com explicações mastigadas e fui jogada em um labirinto de epifanias francesas. Eu compreendo que existam pessoas que gostam de filmes lineares, finais explicados e narrativa realistas, mas se você for uma dessas pessoas e quiser sair um pouco do seu lado do espelho(ou se você pretende assistir a um filme do Godard por conta da música Eduardo e Monica), esse é o melhor filme para começar a desbravar essa experiência extrassensorial que é o cinema francês.
 Obs: Se você nunca ouviu falar do Fritz Lang pelo amor de deus vá assistir Metrópoles, que é com absoluta certeza um dos 10 melhores filmes já feitos.
 Direção: Jean-Luc Godard
 Países: França e Itália
 Ano: 1963
 Minha nota: 9/10