quinta-feira, 21 de maio de 2020

Estômago


 Raimundo Nonato chega a São Paulo sem dinheiro, moradia ou um planejamento do que realmente deseja e logo arruma um trabalho em um bar na região central da cidade. Lá ele descobre que tem talento para ser cozinheiro, e isso chama a atenção dos frequentadores do bar e de donos de restaurantes locais, causando uma rápida ascensão em sua carreira. Paralelamente, também vemos a ascensão de Raimundo Nonato como cozinheiro em um lugar bem diferente da capital paulista, a prisão, onde ele é obrigado a usar uma extrema criatividade para criar pratos que agradem os nada agradecidos presidiários.
  A dinamicidade do roteiro e da edição, que conseguem equilibrar perfeitamente as duas linhas temporais, transformaram Estômago em um dos melhores filmes nacionais já feitos. Esse é um daqueles filmes que, não importa quanto tempo passe, nós nunca esquecemos de sua história. É sempre minha indicação quando me pedem sugestões de filmes nacionais, mas esse não é um filme para todo mundo, porque o título pode ser metafórico (assim como o filme), mas realmente é preciso ter estômago forte para assisti-lo.

Destaque:
  • O elenco é impecável. Os coadjuvantes são excelentes, mas os protagonistas, João Miguel e Fabíula Nascimento, dão um show a parte.
Direção: Marcos Jorge
Ano: 2007
País: Brasil
Minha nota: 9.5/10

sábado, 2 de maio de 2020

Cria corvos - Cria cuervos


 Sabe aqueles filmes protagonizados por crianças sorridentes, de camisetas listradas, que andam de bicicleta com os amigos durante o verão e que te faz ficar com saudade da sua infância? Esse, definitivamente, não  é o tipo de infância que Ana, a protagonista de Cria Cuervos, teve. Ana, devido a fatos que se coincidiram com seus desejos, acredita que tem o poder de dar a vida e a morte as pessoas,  e ela tentará usar esse suposto dom para acabar com toda a opressão imposta à ela pelos tiranos adultos.
 Ana, acredito eu que como forma de refúgio mental, relembra, recria e imagina acontecimentos que deixaram fortes lembranças e pensamentos que a assombravam. Isso causa, em nós e em Ana, uma certa dúvida se aquilo ocorreu de fato, ou se ocorreu apenas em sua imaginação.
 Cria cuervos utiliza a revolta de Ana com a autoridade como metáfora para a revolta da população com a ditadura Franquista. Ana era obrigada a viver nos limites que lhe eram delimitados, tinha que seguir as regras que lhe eram impostas sem saber o motivo de ter que segui-las. Todas essas normas causam em Ana uma aversão por qualquer espécie de autoritarismo, e causam-lhe os piores pensamentos e desejos a quem lhe tente dar ordens.
  Para mim a Ana parece um exemplo dado por Freud de tudo que pode ocorrer durante a infância que irá influenciar negativamente na personalidade de uma pessoa, ou seja, Ana parece uma criança normal. Ela tem suas mágoas, seus momentos de egoísmo, seus desejos vingativos, mas também tem seus momentos de brincadeiras e suas curiosidades infantis. 
 Cria cuervos y te sacarán los ojos (cria corvos e eles te arrancarão os olhos) é o ditado popular de onde foi tirado o título do filme, e nesse caso nós compreendemos que inocência infantil são palavras que nem sempre andam lado a lado.
 Obs: Eu sempre costumo avisar quando o filme é parado, pois sei que muitos não gostam, então fica o aviso. O filme é muito intimista, a maior parte do tempo ele mostra apenas as expressões de Ana e tem várias sequências sem ou com poucas falas. O que eu sempre digo é: saia da sua zona de conforto e arrisque uma coisa nova, mas obviamente isso fica a seu critério.

Destaque:

  •  A impressionante interpretação de Ana Torrent, que na época tinha apenas 9 anos, é uma das mais complexas interpretações infantis que eu vi no cinema.

Direção: Carlos Saura
Ano: 1976
País: Espanha
Minha nota: 8.5/10