domingo, 3 de dezembro de 2017

Coração satânico - Angel heart




  
 Louis Cyphre (Robert De Niro) contrata o investigador  particular Harry Angel (Mickey Rourke) para localizar um antigo cantor de jazz, com quem ele tem um misterioso acordo. Enquanto Angel segue as pistas do paradeiro do cantor, uma trilha que mistura religião e assassinatos é traçada, e cada passo dado rumo a descoberta do caso, é um passo a menos para a descida de Angel ao inferno.
 Quase todas as cenas apresentam várias dualidades, que só farão sentido quando o segredo do filme for revelado. Em Coração satânico foi feita uma perfeita fusão da narrativa simples com o apelo visual pesado, que parecem representar perfeitamente a personalidade do personagem principal.
 A atmosfera pesada e angustiante que ronda Angel, é extremamente perceptível durante todo o filme, causando, até nos mais incrédulos, a certeza de que o sobrenatural é um perigo que fica cada vez mais eminente, até quando percebermos que para Angel, o sobrenatural é destinadamente inevitável.  

 Destaques:

  •  Mickey Rourke estava no seu auge, ele representa brilhantemente a transformação de seu personagem, que vai de um homem comum, até um homem que desceu ao inferno. De niro também faz um papel inesquecível, mas o destaque realmente é o Rourke.
  •  O trabalho de direção é extremante detalhado, é construída uma cuidadosa atmosfera macabra envolta de cada cena. 

 Minha nota: 9/10
 Direção: Alan Parker
 País: EUA
 Ano: 1987





sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Deixa ela entrar - Låt den rätte komma in

  

  Filme de vampiro. Só essa classificação já espanta uma grande parte dos fãs de filme de horror, mas não se prenda ao gênero, pois Deixe ela entrar é um dos melhores filmes de "horror" das últimas décadas.
  Oscar é um garoto solitário até conhecer sua nova vizinha, Eli, que partilha da sua mesma idade e solidão. Eles rapidamente se tornam amigos, e Oscar parece não se importar com o fato de Eli não sair durante o dia, não comer ou conseguir escalar para sua janela, que fica no terceiro andar. O que Oscar não imagina é que essa amizade trará drásticas mudanças (e muito sangue) à sua vida. 
  Com reviravoltas e muita neve, esse filme mostra uma Suécia que só não é mais fria que seus habitantes, pois com exceção de Oscar e Eli, os personagens tem falas rápidas, olhares gelados e fazem uma bela representação de como as crianças enxergam os adultos: completamente distantes dos acontecimentos de suas vidas. 
  O diferencial de Deixe ela entrar é a abordagem do tema, ele tem várias ambiguidades e por conta disso deixa algumas questões em aberto, o que pode influenciar sua visão de que se o final é uma tragédia ou um recomeço.
  Obs: Não é porque a classificação é terror que o filme tem que ser assustador, eu classificaria como horror-arte, mas como essa classificação não existe eu vou classificar como terror mesmo.
 Obs2: Preste atenção nas portas, são utilizadas como uma metáfora bem interessante.   

 Destaques:   
  •  A cena da piscina, por si só já é um espetáculo a parte de direção.
  •  A direção dos atores mirins, os enquadramentos e os ângulos de câmera, mano... dá até vontade de abraçar esse diretor. 

 Direção: Tomas Alfredson
 País: Suécia
 Ano: 2008
 Minha nota: 9/10

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A outra Terra - The other earth


  No rádio do carro de Rhoda Williams, que acaba de ser aprovada para o curso de física de umas das mais conceituadas universidades do mundo, foi dada a notícia de que um novo planeta foi descoberto e é possível vê-lo a olho nu. Ela observa a nova descoberta e sem perceber ultrapassa um sinal fechado e bate violentamente no carro de um famoso compositor, tirando a vida de seu filho e de sua esposa grávida. Rhoda passa quatro anos presa, e quando ela retorna é informado que o novo planeta é exatamente igual a Terra, tem a mesma extensão, os mesmos continentes, até as cidades são iguais, e quando ocorre o primeiro contato com a outra terra é descoberto que as pessoas também são as mesmas, existe uma cópia nossa lá, que viveu tudo que a gente viveu. E é à partir dessa notícia que as pessoas começam a questionar: Será que é possível ir até lá e conversar comigo mesmo? Será que minha outra versão é melhor do que essa? Será que meu outro eu cometeu os mesmos erros que eu cometi?
 Diante desses questionamentos Rhoda se candidata a uma vaga na tripulação da primeira nave a visitar a outra Terra, em busca de uma outra realidade, torcendo para que a vida da Rhoda 2 não seja apenas o reflexo de sua própria vida. 
  Este filme trata de temas como o perdão e a solidão, mas acima de tudo ele fala sobre arrependimento, já que se não houver uma outra Terra nós teremos que aprender a lidar com as consequências do que causamos, pois não podemos buscar uma outra realidade que não seja a nossa.
 E você? Ia querer conhecer a outra Terra?


 Destaque:
  • Destaque para a Brit Marling, que atuou no papel de Rhoda e também escreveu o roteiro do filme. Ela também escreveu e atuou na maravilhosa série da Netflix The Oa.

 Direção: Mike Carril
 Ano: 2011
 País: Estados Unidos da América
 Minha nota: 8/10

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Mamãe é de morte - Serial mom



 Beverly aparenta ter a família perfeita, é casada com um dentista certinho e tem dois educados filhos adolescentes. O que ninguém desconfia é que não reciclar lixo, não usar cinto de segurança ou magoar qualquer membro da sua família pode te tornar um alvo dessa serial killer mãe de família, obsessiva em manter tudo e todos dentro dos seus conceitos morais.
 Mais uma critica em forma de filme do diretor John Waters ao American way of life. A cidade de Baltimore, que é sempre o cenário de seus filmes, está irritantemente perfeita, colorida e alegre. Os pássaros cantam e os moradores são sorridentes... até que Berverly nos mostra a cruel realidade escondida por trás daquelas paredes com tons pastéis, pessoas que roubam vaga do estacionamento, que devolvem fitas cassetes sem rebobinar e até pessoas que não fazem higiene bucal.
 O intrigante é que nós acabamos gostando da Beverly, quando a contagem de corpos começa a aumentar nós percebemos que ela só quer que sua família tenha uma vida perfeita, mesmo que pra isso seja necessário virar a serial mom, e aterrorizar a vida dos grosseiros suburbanos.  

 Direção: John Waters
 Ano: 1994
 País: Estados Unidos
 Minha nota: 8/10

sábado, 22 de julho de 2017

Bonnie and Clyde - Uma rajada de balas


  As revoluções ideológicas ocorridas nos anos 60 influenciaram radicalmente o modo de se fazer cinema até então conhecido. A nouvelle vague francesa, o neo-realismo italiano, Bergman e Kurosawa inovavam o cinema mundial, e para evitar a falência de grandes estúdios, os EUA resolveram dar abertura a novos diretores, e Bonnie e Clyde foi o carro-chefe da nova Hollywood.
 Um dos filmes mais influentes da história marca também a melhor fase cinematográfica americana, que para competir com toda a nudez e sensualidade dos filmes europeus trouxe umas das suas características mais marcantes, a violência gráfica. 
 Baseado na história do casal Bonnie Parker e Clyde Barrow, que aterrorizaram os EUA nos anos 30, o filme mostra desde o momento que o casal se conhece, até o trágico desfecho de suas vidas. A queda do conservadorismo no cinema americano fica evidenciada pela simpatização dos bandidos e eternizada pela frase de Bonnie: Nós roubamos bancos. Há algo errado nisso?
  
 Destaque:

  • A cena final, uma das melhores e mais inesquecíveis cenas do cinema. 

 Direção: Arthur Penn
 Ano: 1967
 País: Estados Unidos
 Minha nota: 9/10 



quarta-feira, 12 de julho de 2017

Grave - Raw



 Justine, que vem de uma família de veterinários vegetarianos, acaba de entrar na faculdade, e um dos primeiros trotes como "bixo" é comer carne crua. O que Justine não esperava é que seu contato com carne despertasse um desejo até então desconhecido, que vai se tornando cada vez mais incontrolável.
  Com fama de fazer as pessoas passarem mal no cinema, esse filme é inegavelmente pesado, no sentido mais gore possível. Mas não o assista com o intuito de ver um filme trash, Grave foi belissimamente bem produzido, tem uma linda fotografia cheia de luz, que contrasta com o vermelho sangue e traz um realismo que estranhamente dá um ar natural as cenas mais sanguinolentas.
  Com inúmeras teorias sobre suas metáforas, Grave é um filme com muita subjetividade, que representa (muito bizarramente aliás) a transformação que Justine passa para alcançar o mundo adulto. O filme é muito mais sensitivo do que hipotético, então assista com mais sensibilidade e menos teorias, por que "grave" são os danos que ele causará no seu sistema nervoso.

 Destaque:

  • A diretora Julia Ducournau conseguiu construir uma mistura de cenas realista com um tema surreal, que de tão kafkiano nos deixa em um estado de total perplexidade.

  Direção: Julia Ducournau
  Ano: 2016
  País de origem: França e Bélgica 
  Minha nota: 9/10

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Possessão - Possession



  Abra a sua mente além de todos os limites da realidade e entre nessa insólita história surreal.
  Mark resolve largar o emprego para ficar mais tempo com a família, e tentar salvar seu casamento com Anna. O que não dá muito certo, pois Anna o abandona e só aparece esporadicamente para visitar o filho. Mark suspeita que ela está vivendo com outro homem e contrata um detetive para segui-la.
  E é à partir daqui que a aparente normalidade do roteiro é rompida, porque Mark descobre que Anna está tendo dois casos extraconjugais, mas só um deles é com um humano.
  Os cenários claustrofóbicos e a câmera invasiva do Zulawski parecem atormentar ainda mais os personagens centrais. Eles não tem espaço, não conseguem respirar, nós ou as paredes estamos sempre perto demais deles, sempre cercando-os.
  Possessão é uma das obras primas do cinema surrealista, é uma metáfora sobre o rompimento das barreiras da mente humana. Aqui não existe vilões ou mocinhos, aqui só existe o bizarro. 

 Destaque:

  •  Destaque para a estonteante Isabelle Adjani, uma das mais premiadas atrizes do cinema, que mesmo explodindo em pus e sangue (cena acima) consegue continuar hipnotizante.

  Direção: Andrzej Zulawski
  Ano: 1981
  Países de origem: França e Alemanha
  Minha nota: 9/10






quarta-feira, 5 de abril de 2017

Sexo, mentiras e videotape - Sex, lies and videotape




  Ann e John vivem um casamento de aparências. Ela deixou o emprego a pedido do marido e agora é uma dona de casa entediada, que maximiza problemas como passatempo, e ele tem um caso com Cynthia, a irmã de Ann. A chegada de Graham, antigo amigo de faculdade de John, traz consigo a percepção da realidade para as irmãs.
  Graham, que é impotente, grava para seu próprio prazer mulheres falando abertamente sobre fatos de suas vidas sexuais em fitas cassetes, que ele promete que não mostrará a ninguém.
  O filme de estréia do diretor Steven Soderbergh utiliza o ainda polêmico tema sexo para escancarar o tema central da história, as mentiras, as que contamos para os outros e para nós mesmos.
  Através das gravações de Graham vemos que a garantia de que a fita não seria vista por mais ninguém as fazem querer contar seus segredos mais ocultos, como se fosse necessário falar aquilo em voz alta pelo menos uma vez e não ser julgada. Nas gravações elas não precisam fingir que são recatadas ou fingir que gostam de sexo, elas podem mostrar o que são debaixo do véu da moral e da normalidade.
    Em Sexo, mentiras e videotapes as aparências criadas para mascarar as vidas sem sentido são descobertas, e não resta outra opção aos personagem depois de serem expostos as gravações, a não ser conviver com a verdade.

 Destaque:

  •  O roteiro, que é simultaneamente intimista e aberto, e que também foi escrito pelo Soderbergh.

 Direção: Steven Soderbergh
 Ano: 1989
 País de origem: Estados Unidos
 Minha nota: 8.5/10


quarta-feira, 8 de março de 2017

Suspiria

  



  A americana Suzy muda-se para Alemanha afim de estudar em uma conceituada escola de balé, mas no dia de sua chegada ela testemunha uma estudante fugindo desesperadamente em meio a uma enorme tempestade. No dia seguinte Suzy fica sabendo que a aluna tinha sido expulsa da escola, e que um pouco depois de sua fuga ela foi brutalmente assassinada.
  Suzy descobre que a jovem aluna suspeitava que a escola era regida por bruxas e que todos que partilhavam dessa suspeita desaparecem ou morrem misteriosamente.
  Assim que Suzy entra na escola, a sensação que nos é dada é de que ela atravessou o espelho de Alice, e que na verdade aquele é o mundo invertido, pois depois de adentrar a escola nossos olhos já não observam os lugares da mesma forma. A estética de Suspiria é exageradamente colorida, suas escandalosas paredes, janelas e decorações querem nos tirar toda a atenção para não percebemos os segredos escondidos dentre os aposentos da escola.
  Considerada a obra prima do mestre do horror Dario Argento, Suspiria tem os cenários mais assustadores (e também os papeis de parede mais cafonas) da história do cinema.
  Primeiro filme da trilogia das mães, seguido por A mansão do inferno (1980), e O retorno da maldição (2007).
  
 Direção: Dario Argento
 Ano: 1977
 País de origem: Itália
 Minha nota: 8/10

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Gato preto, gato branco - Crna macka, beli macor

  


  Vencedor do Leão de prata de melhor diretor, Gato preto, gato branco acompanha a história de Matko, um cigano trambiqueiro que mente para um mafioso idoso afim de conseguir dinheiro emprestado para investir em um golpe. Mas Matko é enganado pelo seu comparsa Dadan, que lhe rouba todo o dinheiro, e para sanar a dívida ele terá que casar seu filho, Zare, com a irmã de Dadan. O problema é que Zare está apaixonado pela neta da proprietária de um bar local, e sua avó está tentando a casar com Dadan. E no meio dessa bagunça shakespeariana ainda tem as putas festas super animadas no meio de tiroteios e bombardeios, que são bem tradicionais nos filmes do Kusturica. 
  Dá pra reconhecer que um filme foi feito pelo Kusturica logo nas primeiras cenas. As bandas, as mortes, as ressuscitações, os animais e outros montes de confusões surreais, que só ele conseguiria transformar, mesmo com um monte de clichês como mocinho, vilões e finais felizes, em um filme extremamente original.

 Destaque:
  • A construção dos personagens. Todos eles são tão carismáticos que você não sabe se torce pro vilão, pro mocinho, pro idoso ou pra anã.

 Direção: Emir Kusturica
 Ano: 1998
 País de origem: Iugoslávia
 Minha nota: 8/10



  

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Corra Lola, Corra - Lola rennt

  


 "O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."
  Nessa frase Clarice Lispector, assim como eu, prefere acreditar que parte de nossas vidas são determinadas pelo acaso. Um atraso, uma distração ou uma pequena mudança repentina talvez possa determinar nosso futuro. E é exatamente sobre as probabilidades do acaso que Corra Lola, corra fala.
  As três histórias contadas no filme tem a mesma introdução, Lola tem apenas vinte minutos para conseguir 100 mil marcos e salvar a vida de seu namorado. O desenvolver de cada história é formado por eventualidades do acaso, um conjunto de pequenos incidentes que interferem para que Lola consiga ou não concluir o seu objetivo.
  Os cortes rápidos, as repetições que parecem ecos em nossa cabeça e os relógios que continuam rodando rapidamente transformam o filme em uma emocionantes corrida, em que ansiamos pelo destino de Lola a cada esquina virada. E para implementar nossa aflição a trilha sonora parece batidas de ponteiros imaginários contando o tempo restante de Lola.

 Destaque:
  • A edição (ou montagem), o elemento que, dependendo de como a justaposição de fragmentos é feita, pode dar um outro sentido ao filme. Menosprezada por muitos diretores, aqui se mostra o elemento mais imponente do filme, apesar de apresentar outros bons elementos é a edição inovadora que o transformou num recente clássico cult. Na verdade qualquer componente do cinema, quando genialmente bem trabalhado, como a direção da cena da cabine em Paris, Texas, o roteiro de Casablanca, que eu lembro toda vez que alguém fala em Paris e a edição da cena da escadaria de O encouraçado Potemkin, podem transformar o que poderia ser só mais um filme em memórias permanentes em nossas mentes. 

 Direção: Tom Tykwer
 Ano: 1998
 País de origem: Alemanha
 Minha nota: 9/10


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O anjo exterminador - El angel exterminador




  Buñuel novamente mostra o sentido literal do surrealismo e volta a atacar o alvo constante de seus filmes, a burguesia. Porque se 10 anos depois ele ironicamente nos apresenta  "seu discreto charme", agora ele o disseca, retratando o lado por trás da máscara da moral e dos bons costumes.
  Um grupo de aristocratas é convidado para um jantar, e após diversas situações incomuns eles percebem que inexplicavelmente não conseguem sair do local. Com o passar dos dias as aparências são esquecidas, e todos começam a mostrar o que realmente são.
  Eu já ouvi muitas interpretações diferentes sobre este filme, pra mim Buñuel escancara o que Nietzsche fala em seu livro Humano, demasiado humano, que os valores morais foram feitos para falsamente nos domesticar, para nos fazer fingir que não somos animais. Mas seguindo a ideia de que a definição de surrealismo é ir além dos limites da lógica e da razão e expressar o inconsciente e os sonhos, então a perspectiva é diferente a cada um que o assiste. 
  Veja essa inimaginável história (que supostamente foi dada a Buñuel por Gil Pender) e tire suas próprias conclusões.


 Direção: Luis Buñuel
 Ano: 1962
 País de origem: México
 Minha nota: 8.5/10