domingo, 16 de dezembro de 2018

A vida dupla de Véronique - La double vie de Véronique



  Véronique e Weronika, além do nome e do gosto por música, partilham também a mesma aparência. Uma é Polonesa e a outra francesa, mas durante uma viagem Weronika vê Véronique subir em um ônibus, ela passa desapercebida pela outra, mas esse breve encontro concretiza para Weronika a lenda de Doppelgänger, de que ver o nosso duplo é um sinal eminente da nossa própria morte. 
 Os filmes do Kieslowski possuem uma atmosfera extrassensorial única, e através dela  podemos enxergar internamente os personagens. Perceberíamos que falta algo em Véronique mesmo se ela não falasse isso a seu pai, percebemos que a personalidade dela é oposta a de Weronika, que prefere se arriscar e provar tudo, enquanto Véronique apenas observa tudo com o olhar de quem já conhece as sensações de experiências por quais nunca passou. A construção semiótica única do filme nos propõe um modo diferente da compreensão da comunicação, como se poucas palavras fossem suficientes para compreendermos profundos sentimentos e tormentos irracionais.


Diretor: Krzysztof Kiéslowski
Ano: 1991
País: França e Polônia 
Minha nota: 9/10


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O homem de palha - The wicker man



  Existem filmes que influenciam outros filmes e existe O homem de palha, que influenciou todo um gênero e inúmeros outros filmes.
  Uma carta anônima é enviada ao Sargento Howie, que é um cristão fervoroso, informando que uma menina não é vista ha meses na ilha em que mora, e os seus parentes e vizinhos aparentam não se importar com o seu sumiço.
  Mesmo sabendo da fama pagã da ilha, o sargento vai até lá para começar a investigação e percebe que os habitantes da ilha tem costumes muito mais "pagãos" do que ele esperava. Orgias ao ar livre, culto a natureza, crença de reencarnação em outro meio de vida e rituais para a colheita. O que parece ser o paraíso para as pessoas que desejam viver sem os padrões cristãos e seguir apenas a sua própria vontade é o literal inferno do Sargento Howie, que suspeita cada vez mais que o desaparecimento da menina tem alguma ligação com os profanos costumes da população (e ele tem toda razão).
 A conspiração que o sargento pressente realmente tem fundamento, mas o que ele não desconfia é que os ritos dessa estranha religião são mais mortais do que aparentam.
  A primeira vez que eu vi esse filme eu esperava algo totalmente diferente, algo padronizado, com bruxas de preto, rituais com muito sangue, cenas noturnas e aparições demoníacas. Eu fui totalmente surpreendida com as músicas, o clima onírico, a claridade e os sorridentes personagens. Para entender o filme precisamos compreender que tudo é relativo, inclusive o bem e o mal.
  É difícil falar sobre O homem de palha e não dar spoiler sobre o super famoso desfecho do filme, mas se você nunca ouviu falar sobre a última cena, assista-o e ela ficará eternamente memorizada em sua mente como uma das cenas mais ousadas do cinema.
  Obs: Eu já assisti a centenas de remakes ruins, mas O sacrifício (2006) é um sacrilégio ao O homem de  palha. Pelo menos eles acertaram no título, por que é um sacrifício conseguir assisti-lo até o final. 

 Destaques:

  • Destaque para o surpreendentemente versátil Christopher Lee, que disse que entre as centenas de filmes que ele participou o que ele mais gostou de fazer foi O homem de palha.
  • Só o contexto da dancinha da Britt Ekland nua, na porta do sargento, já vale pelo filme todo.


 Direção: Robin Hardy
 Ano: 1973
 País: Inglaterra
 Minha nota: 9/10

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O sacrifício do cervo sagrado - The killing of a sacreed deer

  

 Sabe aquela sensação que temos quando achamos que algo ruim irá acontecer? Essa sensação intuitiva é o que melhor descreve o que você sentirá ao assistir O sacrifício do cervo sagrado.
 Steven (Colin Farrell) é um renomado cardiologista e é casado com Anna (Nicole Kidman), com quem tem dois filhos adolescentes. Steven se encontra constantemente com Martin, um jovem cujo o pai faleceu enquanto era operado por Steven, mas esses encontros parecem esconder algo que Steven só perceberá quando as intenções começarem a aparecer por trás do ar de simpatia de Martin.
  Os personagens do Yorgos Lanthimos costumam ser tão expressivos quanto sociopatas ou robôs, e existe também a falta de percepção de algum comportamento totalmente fora do comum, por exemplo a tentativa de sedução assustadora da Alicia Silvertone, se é comigo ou eu saio correndo ou começo a chorar encolhida em um canto.
 O estranhamento é realmente o que se sobressai ao assistirmos qualquer filme do Lanthimos, o primeiro filme que eu assisti dele foi O lagosta, e lembro de pensar durante o filme todo: mas que porra estranha e genial é essa? Então se você é um daqueles que ficam reclamando que o filme é esquisito demais, não assista esse filme, O sacrifício do cervo sagrado foi feito pra pessoas que assim como eu, costumam falar: mano, que filme esquisito, adorei.

Destaques:
  • Pra mim esse foi o filme mais bem dirigido do Yorgos Lanthimos. Aqui ele consegue implementar o clima de tensão com vários elementos, ele utiliza a trilha sonora, os planos de câmera distantes e diferentes ângulos, e até o silêncio parece criar essa atmosfera de suspense.
  • Como ocorrem diversas situações completamente inesperadas, nós temos uma completa falta de suposição sobre o desfecho (mesmo o título dando um puta spoiler), o que provoca uma maravilhosa sensação de angustia que poucos filmes conseguem causar.

 Direção: Yorgos Lanthimos
 Ano: 2017
 País: Inglaterra, Irlanda e EUA 
 Minha nota: 9/10


terça-feira, 9 de outubro de 2018

Princesa Mononoke - Mononoke Hime



 Ashitaka é um jovem príncipe que ao proteger sua aldeia é amaldiçoado por um deus-javali, ele parte numa longa jornada à procura de sua cura por entre florestas e antigas aldeias do Japão feudal. Ao chegar no oeste, Ashitaka se vê no meio de uma guerra entre mineradores e deuses-animais, que são liderados por San, a princesa Mononoke.
 Lady Eboshi, líder dos mineradores, deseja extrair a riqueza da floresta para trazer prosperidade ao seu vilarejo, mas San e os lobos pretendem defender a floresta a todo custo.
 Considerado o filme mais pesado do Estúdio Ghibli, Princesa Mononoke trouxe fama internacional ao seu diretor e milhões de fãs ao estúdio, além de ser meu filme preferido de um dos meus diretores preferidos.

 Destaque:
 Foi esse filme que me fez virar fã do Miyazaki, em Princesa Mononoke eu percebi que as ambientações dele são as mais impressionantes e criativas que eu já vi. A cidade dos mineradores, a floresta com suas irreverentes criaturas e também as ambientações de outros filmes, como a casa de banhos de A viagem de Chihiro ou o castelo de O castelo animado são lugares que mais parecem sonhos de utopias. 

Direção: Hayao Miyazaki
Ano:1999
País: Japão
Minha nota: 10/10



quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A vida de Brian - Life of Brian




  Brian nasceu no mesmo dia que seu vizinho, Jesus Cristo, mas essa não é a única coisa em comum entre os dois. Brian, acidentalmente, acaba se tornando um profeta e conquistando indesejáveis discípulos, que entendem suas palavras cada um a seu modo, causando um desentendimento aos seus seguidores.
 As várias interpretações literais e distorcidas de uma única frase ambígua só pode ser tão bem exemplificada no cristianismo, onde sabe-se lá o porquê, um livro conseguiu ser tão diversamente compreendido que criou inúmeras vertentes de fiéis, cada qual achando que a sua versão é a única válida.
  O melhor filme do Monty Python é também o mais satírico e o mais nonsense, com diversas situações absurdas, ele foi (e continua sendo) duramente criticado pelos religiosos, o que só comprova ainda mais o demonstrado pelo filme, já que a crítica era para os religiosos e não para a religião. Mas qual seria a graça de realizar algo que façam as pessoas se questionarem e não ser duramente criticado pelo cristianismo?

Direção: Terry Jones
Ano: 1980
País: Inglaterra
Minha nota: 8/10



domingo, 26 de agosto de 2018

Primavera, verão, outono, inverno... e primavera - Bom yeoreum gaeul gyeoul geurigo bom




  Primavera, verão, outono, inverno e primavera representa um ciclo, que mostra que tanto as estações quanto a vida sempre seguirão até se completarem, mas para continuar a seguir é preciso recomeçar.
 Em um mosteiro isolado do mundo vivem um monge e seu jovem aprendiz. O velho monge diariamente demonstra ao aprendiz sábias e simples lições de "o que é o correto a se fazer", mas apesar das filosóficas lições, com o passar das estações nós percebemos que o aprendiz segue o seu próprio ciclo natural, e que suas ações quebram muitos dos ensinamentos de seu mestre.
 Por mais simples que seja essa narrativa ela carrega uma profundidade imensa, é impossível assistir a esse filme e não refletir sobre nossos atos, sobre as consequências de nossas ações, sobre como colocando um peso em outra pessoa, acidentalmente também colocamos um peso dentro de nós, pode ser um peso que até consigamos carregar, mas nunca mais sentiremos a leveza de andar sem fardo algum.

Destaque:
  • O trabalho de direção do Kim Ki-duk conseguiu encher de significado um filme quase sem falas. 

Minha nota: 9/10
Direção: Kim Ki-duk
Ano: 2003
País: Coréia do Sul


terça-feira, 3 de julho de 2018

Teus olhos meus





 Teus olhos meus fala sobre as nossas mudanças de conceitos. Quando fazemos ou acreditamos em algo que não achávamos certo antes, nós deixamos de ser aquela pessoa que achava errado, nós nos renovamos, nos metamorfoseamos, mudamos aquela velha opinião formada sobre tudo, e Gil, o personagem principal do filme, percebe que faz isso todos os dias. Algo muda nele todo dia e ele já não se reconhece mais, e é a tentativa dessa descoberta interior de Gil que protagoniza o filme.
 Gil é um jovem que vive de música, ele passa os dias compondo, tocando e bebendo com os amigos, fato que desagrada o marido de sua tia, causando muitas brigas e discussões em sua casa, e Otávio, que é produtor musical, vive preso a as memórias de um amor de sua juventude, o que traz problemas ao seu atual relacionamento. Gil e Otávio se conhecem casualmente, e eles rapidamente percebem que possuem uma estranha conexão, pois eles se enxergam um no outro, e esse encontro leva a vida dos dois a caminhos e descobertas totalmente inesperados. 
 Existem filmes que temos que ver mais de uma vez, por mais que este não seja um filme complexo, ele é profundo o suficiente para não o enxergarmos por inteiro da primeira vez que o vemos. Existe muitas poesias, reflexões e epifanias que só farão sentido ao assisti-lo novamente, então reassista-o de preferencia algum tempo depois de vê-lo pela primeira vez, pois você vai precisar de um tempo pra conseguir digerir esse final. 

Destaque:


  •  O filme seria ótimo se continuasse no clima Cameron Crowe, mas inesperadamente acontece um puta plot twist, do qual eu não darei detalhes pra não dar spoiler, mas aposto que ninguém nunca imaginou esse final.


Minha nota: 8,5/10
Direção: Caio Sóh
País: Brasil
Ano: 2011


terça-feira, 13 de março de 2018

A excêntrica família de Antônia - Antonia

  

  Constantemente definido como uma celebração da vida e da morte, o filme conta a história de uma pequena vila na Holanda, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, através de três gerações da realmente excêntrica família de Antônia. A família é ligada não apenas pelo laço sanguíneo, mas também pela exclusão que sofrem da sociedade, exclusão essa que não os incomodam em nada, pois a paz de poder ser realmente quem você é, é bem maior que o instinto de querer ser aceito.
  A história e a mistura da comédia ao drama me lembrou muito o livro Cem anos de solidão, pois os dois apresentam personagens que apesar de todos os contratempos sobrevivem, e vivem se virando do jeito que podem, personagens que riem na cara da tristeza e que conseguem fazer de qualquer final um final feliz.

 Direção: Marleen Gorris
 Ano: 1995
 País: Holanda, Bélgica e Inglaterra
 Minha nota: 8,5/10


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Z





 Tem cara de Brasil mas aconteceu na Grécia, não aquela mitológica que todo mundo conhece, mas a Grécia que vive no meio de uma Europa que nunca deixou de ser conturbada politicamente. Z deixa bem dividido os lados que amenizadores tentam não classificar como direita e esquerda, mas aqui não existem meios termos.
  O filme conta a história de um fato ocorrido em 1963, em meio a ditadura militar grega. Ele narra a investigação sobre o atropelamento que causou a morte de um político esquerdista, que vinha ganhando notoriedade entre a população. A investigação afirma o contrário do que obviamente foi declarado, o atropelamento não foi um mero acidente.
 Os filmes do diretor Costa-Gavras são marcados por denúncias políticas, mas em Z a liberdade foi agredida de uma forma que nos faz refletir que nós, que também vivemos em um país facilmente influenciável, podemos constantemente entrar e sair do governo de Anakins impositores, que só colocam a máscara de Vader depois de empossados, e apesar da metáfora utilizando um governo fictício, Z não poderia ser mais realista, nele a esquerda é comparada a um fungo, que precisa ser eliminado antes que se espalhe, nele a esquerda foi difamada e desrespeitada, a esquerda em Z caiu, mas na vida real nós, desde séculos atrás e até agora ainda estamos aqui e sempre continuaremos em pé.
  O filme ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e adivinhem em qual país, que também estava numa ditadura militar, ele foi proibido? Nos créditos inicias do filme é mostrada a frase "qualquer semelhança com eventos reais ou pessoas vivas ou mortas não é casual, mas intencional." É como eu disse, ocorreu na Grécia, mas é impossível não notar que tem cara de Brasil.

 Direção: Costa-Gavras
 Ano: 1969
 País: França e Argélia
 Minha nota: 9/10