quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Poucos de nós - Few of us


  


   Este talvez seja o filme mais reflexivo do blog, ele parece se passar num universo paralelo ao nosso, um universo com uma realidade invertida, onde tudo é sombriamente emotivo, onde referências temporais e diálogos são dispensáveis.
  O vazio existencial é sempre o protagonista nos filmes do diretor Sharunas Bartas, mas em Poucos de nós o vazio é ainda mais completo, o vazio dos diálogos, das paisagens, dos cenários e de seus personagens. O filme não parece querer nos contar uma história, ele quer nos emergir em sua atmosfera extrassensorial, que mesmo com seus incontáveis vazios, ele se faz parecer completo.
 Nos são apresentados inúmeros planos-sequências, que mostram uma Lituânia isolada da humanidade, perdida no tempo e em sua própria realidade melancólica, seus personagens condizem tão bem com esta melancolia que mais parecem objetos colocados calculadamente nos cenários, para implementar ainda mais essa insustentável atmosfera. 
 Obviamente este não é um filme fácil, independentemente de seu conhecimento cinematográfico, por conta de seus extensos planos-sequências, da ausência de diálogos e de seu ritmo quase inerte, Poucos de nós se torna enfadonho a maioria que o assiste. Então se você não gosta de filmes com ritmos arrastados não tente assistir a esse. 
 Obs: Esse trecho descreve muito bem a personagem principal: 
 O seu drama não era o drama do peso, mas da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.
 Milan Kundera - A insustentável leveza do ser

 Destaques:
  • Impossível não ficar impressionado com as belíssimas paisagens da Lituânia, com esse lugar como cenário e essa luz natural fica menos difícil fazer esse ótimo trabalho de fotografia. 
  • Sempre achei que a Yekaterina Golubeva conseguia dar um ar melancólico a qualquer cena em que aparecesse. 



Direção: Sharunas Bartas
Ano: 1996
País de origem: Lituânia
Minha nota: 9/10



quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Angustia - Anguish - Os olhos da cidade são meus




  Metalinguagem pura, exige extrema atenção pois (assim como muitos dos filmes do blog) Angustia abusa do surrealismo e da psicodelia, causando irreparáveis danos ao seu senso de realidade.
  A primeira meia hora do filme incomoda de uma forma inexplicável, causa um estranhamento, uma apreensão sufocante, que com certeza é causada pela Zelda Rubinstein, que com aquela voz de coisa sobrenatural assombrou uma boa parte dos meus pesadelos de infância. Não tinha Hellraiser, Pennywise ou Michael Myers que me apavorava mais do que essa mulher em Poltergeist dizendo: Vá para a luz, Carol Anne.
  Mas em Angustia é pior ainda, ela não conduz menininhas que entraram pela tv em um plano astral diferente a encontrar o caminho de volta, ela hipnotiza e manipula seu filho a matar e trazer os olhos das vítimas para ela!
  E nesse filme eu vi uma das maiores reviravoltas do cinema..., SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, SPOILER, a história da hipnose é um filme! Ela é um filme dentro do filme. Em angústia os personagens estão assistindo este filme no cinema (quem já leu Shakespeare com suas peças de teatro dentro das peças de teatro vai entender melhor) e isso só nos é mostrado lá pros 20 minutos de filme. 
  E quando sabemos a verdadeira história do filme é que fode tudo de uma vez, por que a hipnose do filme de manipular pessoas para matar funciona para algumas pessoas que o assistem, ou seja, tem um assassino no cinema sendo comandado pela hipnose mostrada pelo filme. E como as duas histórias são mostradas paralelamente seu subconsciente vai se retorcer e misturar o filme com o filme do filme, o assassino real com o cinematográfico. Pena que eu não era nem nascida na estréia do filme, porque deve ter sido legal ir no cinema assistir um filme que mostra um filme dentro de outro filme.     FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER,FIM DO SPOILER, FIM DO SPOILER.     Angustia brinca tanto com nossa mente que você vai achar que enfiou uma cartela inteira de LSD na boca e já não consegue separar o real do fictício.
  

Destaque:

  • O roteiro foi extremamente bem estruturado, quando estava assistindo ao filme comecei a procurar algumas lacunas no roteiro, já que com essa história complexa seria comum alguns buracos, mas não achei nenhuma. O trabalho de edição também é muito bom.

Direção: Bigas Lunas
País de origem: Espanha
Ano: 1987
Minha nota: 9/10