quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O lar - Home



  Uma família jogando hoquéi na estrada em frente a casa deles, pode parecer uma cena atípica mas as cenas seguintes do filme mostram uma família ainda mais "diferente". Home mostra um casal e seus três filhos que moram em uma casa isolada da civilização, mas que fica na beira de uma estrada que está fechada desde sua construção. A estrada é usada como quintal da família até que, aparentemente sem aviso prévio, resolvem inaugurá-la.
  Um filme que mergulha na tentativa de controle da loucura de seus personagens, pois a família que parecia ser diferente, não pela excentricidade e sim pela normalidade com que levavam tudo, começa a desmanchar cena por cena a felicidade que mantinham juntos à partir de quando a estrada é inaugurada. Quando eles reparam que a inauguração finalmente acontecerá, vemos o primeiro grito, que depois passam a ser discussões e brigas com o progredir da estrada. Surgem janelas fechadas e cortinas onde antes só havia claridade e ar, e quando a estrada está em pleno funcionamento se torna impossível manter a mesma rotina, por causa do barulho ensurdecedor e da movimentação excessiva a família é obrigada a  se trancar cada vez mais na casa a procura de privacidade, e essa procura os leva a um enclausuramento agoniante.
  É o micro representando o macro em um road movie imóvel.

Destaque:

  • Isabelle Huppert, que como sempre está  extraordinariamente elegante e sutil.

Direção: Ursula Meier
Ano: 2008
País de origem: França e Suiça
Minha nota: 9.5/10

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Asas do desejo - Der Himmel Uber Berlin - Wings of Desire



  Um dos mais belos filmes que já vi, ele é praticamente composto por reflexões intensas de transeuntes em Berlim.
  Neste filme os anjos são expectadores da vida humana desde o surgimento da terra, eles podem ouvir claramente até nossos pensamentos mais ocultos e tentam nos auxiliar com suas presenças. Essa é a contrariedade do filme, os anjos não sentem, nunca choraram, amaram ou sentiram dor e é exatamente nessas questões que eles interferem, mesmo com milhares de anos de vida eles se surpreendem com feitos humanos porque não entendem o que sentimos, até que o anjo Damiel decide vir para o outro lado.
  Damiel conhece um ex-anjo, que mesmo não podendo vê-lo pode senti-lo, este "homem" conta como é a experiência de sentir tudo, desde o prazer de desenhar até a sensação de esfregar as mãos para aquece-las, e quando Damiel resolve vir para este plano e começa a experimentar todas as sensações eu pensei: E se lembrássemos da primeira vez que vimos o céu? E se lembrássemos da primeira vez que sentimos o cheiro de flores ou que sentimos o gosto de algo doce? Será que seríamos felizes como Damiel por ter um mundo de sensações a ser explorado ou seriamos exatamente como somos?
  Reflexões à parte este filme é uma obra  prima do cinema alemão, que é bem conhecido por seu cinema sério, com roteiros profundos. Se eu tivesse que definir esse filme com apenas uma palavra, essa palavra seria intensidade.
  Obs: Sim, o filme americano Cidade dos anjos foi baseado neste filme, mas apesar da história os dois filmes são completamente diferentes.



Destaque:


  • Tem uma espécie de poema que é declamado em algumas partes do filme que conta como as crianças, mesmo com frases simples, de fácil elaboração, questionam muito mais o motivo da nossa existência do que os adultos, que provavelmente se cansaram da falta de resposta e se adaptaram a sociedade conformista.

  Direção: Wim Wenders
  Ano: 1987
  País de origem: Alemanha
  Minha nota: 9/10




  

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Viagem alucinante - Enter the void


  Gaspár Noé é conhecido por fazer filmes perturbadores e Enter the void só implementa a fama do diretor. O filme mostra o submundo de Tóquio através dos olhos de Oscar, um pequeno traficante e um grande usuário de drogas.
 Lembranças fragmentadas e desordenadas são jogadas constantemente e inconscientemente na visão de Oscar, aliás o que esse filme tem de perturbador são exatamente as visões de Oscar, as visões de dentro de suas "viagens" com drogas psicodélicas ou as visões de quando ele sai do corpo e plaina por cima das cenas. A trilha sonora é composta por ruídos e barulhos que parecem algum tipo de música eletrônica experimental e que se interligam com a intensidade das emoções dos personagens que também são expressas pela brusca variação de cores para tons de vermelho e amarelo através de luzes psicodelicamente piscantes.
  Esse filme não é recomendado para pessoas conservadoras, já que a moral e os bons costumes passam extremamente longe dele. Além de mostrar consumo excessivo de várias drogas, ele também tem cenas reais de sexo.  
  SPOILER SPOILER SPOILERE além de tudo isso, no final do filme você percebe que a história fala do ciclo da vida, só que através de uma bad trip fodida de alguém que exagerou no LSD e arrombou as portas da percepção.SPOILER SPOILER SPOILER

Destaque: 
  • O movimento das câmeras faz nós realmente nos sentirmos  presos no corpo de Oscar ou flutuando acima dos personagens e assistindo o filme de cima. 

Direção: Gaspár Noé
Ano: 2009
País de origem: França
Minha nota: 9/10



domingo, 22 de novembro de 2015

Cashback - Bem vindo ao turno da noite



  Ben tem um poder especial que pode ser interpretado de dois modos, ou ele consegue congelar e diminuir a velocidade do tempo por alguns momentos, ou ele tem uma visão extremamente atípica sobre o tempo. Ele usa esse poder para se distrair no seu trabalho noturno em um supermercado, trabalho o qual resolveu arrumar para ocupar seu tempo durante suas noites de insônia. Ben aproveita o seu poder para congelar momentos e captar sua beleza, as pintando ou as observando de diversos ângulos, seja a beleza das expressões dos olhares da operadora de caixa ou de seres inanimados, como um saco de ervilhas aberto no chão.
  Diferentemente da maioria dos filmes postados neste blog, Cashback não faz uso de metáforas, paráfrases ou simbolismos. É um filme objetivo que conta a história de um rapaz que não sabe o que fazer com o tempo, o que é irônico já que tempo, graças ao seu "dom", é o que mais lhe sobra.


Destaques:

  • O filme consegue mostrar uma apreciação da beleza da nudez feminina sem um contexto sexual.
  • O cenário do supermercado foi usado de uma forma visualmente muito expressiva e bonita, parece até uma sequência de pinturas modernas.  


 Direção: Sean Ellis
 Ano: 2006
 País de origem: Inglaterra
 Minha nota: 8.5/10

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Quadrilha de sádicos - The hills have eyes


  Esse filme tinha tudo pra ser ruim, tinha tudo pra ser um filminho trash qualquer, mas o diretor Wes Craven conseguiu transformar esse poço de clichês em um puta clássico do terror. 
  O filme conta a história de uma família que está viajando de trailer pelo deserto americano e o carro quebra, alguns saem pra procurar ajuda e os que esperam ainda não sabem, mas estão sendo observados por outra família, só que bem diferente da deles.
  Esse filme de baixo orçamento tem algumas atuações ruins, tem sangue extremamente falso (que era comum nos anos 70) e os diálogos te deixam na dúvida de qual é a família menos inteligente, mas quando começa a luta pela sobrevivência, você percebe que o suspense compensa qualquer outra limitação que o filme teve, e as longas sequências conseguem manter a tensão até o último segundo de filme. Um dos poucos filmes que eu realmente considero como suspense.
  O filme tem um remake de 2006, chamado Viagem maldita, que ficou muito bom, o que é muito raro em remakes de terror.   


Destaque:

  • Essa história até nos parece um pouco absurda, mas por mais incrível que pareça ela foi baseada em uma história real. 
 Direção: Wes Craven
 Ano: 1977
 País de origem: EUA
 Minha nota: 7.5/10

  

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Nostalgia - Nostalghia



  Este filme conta a jornada do poeta russo Andrei Gorchakov, que está na Itália para escrever a biografia de um músico, também russo, que foi enviado para Itália, mas tomado pela nostalgia voltou à sua terra natal. Já na primeira cena você vê que Gorchakov não encontra mais sentido nas coisas, já não vê beleza em nada e se isola cada vez mais, até conhecer Domenico, um homem intitulado como louco pelos outros habitantes locais, mas Gorchakov enxerga nas palavras de Domenico o sentido e a lucidez que as outras pessoas nunca tiveram. 
   Essa história é uma paráfrase ao que o diretor Tarkovski passou durante seu exílio na Itália, pois tanto Gorchakov, quanto Tarkovski não se adaptaram a outras culturas, talvez por serem muito apegados as suas raízes. Parece que a distancia em que Gorchakov se encontra de seu país o levou a se distanciar a tudo em sua volta, o levou a mergulhar numa profunda nostalgia.


Destaques:
  • A fotografia mais perfeita da história do cinema. Seja nas banheiras naturais, nas paisagens nebulosas ou nos flashbacks em preto e branco. Toda cena consegue captar uma beleza impressionante, tanto em lugares fechados como em cenas da natureza, com belas estruturas ou aparentemente abandonadas.
  • A última cena mostra apenas uma imagem (foto acima), mas o sentido dela dá ao filme um final totalmente inesperado.

Direção: Andrei Tarkovski
País de origem: Itália
Ano:1983
Minha nota: 9.5/10


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Valerie e sua semana de deslumbramentos - Valerie e týden divu


  Esse filme é uma grande metáfora sobre o despertar sexual de Valerie, uma garota de 13 anos, que mora com a sua suposta avó. A semana de deslumbramentos começa com Valerie tendo sua primeira menstruação, que coincide com a chegada de um grupo circense trazendo personagens muito bizarros, que mais parecem personagens de um conto do Marquês de Sade. E como nesse filme tudo é o que aparenta ser, a única pessoa realmente pura é a própria Valerie, que enfrenta tentativas de coação sexual o filme todo. As roupas sempre pretas dos vilões contrastam com a fotografia que tem sempre muita luz, deixando a história menos sombria, mas não menos surreal. Aliás, tudo é tão surreal que dá a impressão que Valerie acordará a qualquer momento e perceberá que tudo não passou de um sonho semi-erótico. 
  Recomendado pra quem curte um surrealismo e tem a mente aberta para filmes com contextos sexuais um tanto excêntricos.

Destaque:
  • Os personagens são muito bem construídos e nos dão várias visões de suas personalidades.


   Direção: Jaromil Jires
  País de origem: República Tcheca
  Ano: 1970
  Minha nota: 8/10


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O Jardim - Zahrada



  Surrealista e filosófico, este filme nos leva lentamente para fora da realidade. Após ser expulso da casa do pai, Jakub resolve passar uns dias na casa do avô, mais especificadamente no jardim. Por lá passam personagens inusitados, como São Benedito, Rosseau e Wittgenstein, e quando Jakub começa a seguir seus conselhos, começa a dar mais sentido a sua vida.
 Vamos nos acostumando aos poucos com o jardim, que parece um lugar perdido no meio do País das maravilhas, onde o surrealismo é apenas uma realidade que ainda não conhecemos.


Destaque:

  • O clima onírico faz o filme parecer uma fábula que não tem lição de moral no final, pois tudo nele é uma reflexão surrealista sobre a vida.

     Direção: Martin Sulík
  País de origem: Eslováquia
  Ano: 1995
  Minha nota: 8/10


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Rosetta



  É um filme duro, cru. Que mostra uma realidade difícil, cheia de eventualidades do acaso. Ele tem poucos diálogos e não tem trilha sonora, escutamos apenas o que Rosetta escuta, e por ser solitária o silêncio reina no filme. Em algumas cenas só sabemos o que acontece ao redor pelo som ou pela reação de Rosetta, pois a câmera fica fixa o tempo todo nela. O filme não poderia ter um título melhor, ele só mostra Rosetta, sua triste rotina, sua solidão, sua melancolia, suas tentativas de mudar, ali o que importa é Rosetta.
  Rosetta tenta de todos os modos ter uma vida normal, que pra ela começa com ter um emprego fixo, ela também tenta fazer a mãe, com quem mora em um acampamento de trailers, tratar o alcoolismo. Ela diariamente sai a procura de emprego, os quais nunca consegue manter por muito tempo por motivos variados. Em diversas cenas Rosetta é impulsiva e orgulhosa, mas o filme é tão bem preenchido em todos os aspectos, que não sobra espaço para nosso julgamento.

 Destaques:


  • A atuação da atriz que interpreta Rosetta (Emilie Dequenne), que ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por esse papel.
  • Os longos planos sequências, os close-ups e a câmera na mão são uma aula de como fazer cinema.

   Direção: Jean Pierre e Luc Dardenne
 País de origem: Bélgica
 Ano: 1999
 Minha nota: 9.5/10


domingo, 1 de novembro de 2015

Crimes Temporais - Los Cronocrímenes



  Ficção com um enredo impressionante e sem efeitos especiais. O baixo orçamento é notável, mas isso não o prejudicou em nada.
  Crimes temporais conta a história de Hector, que ao tentar investigar uma estranha cena nos arredores de sua casa é atacado, ele foge e encontra um cientista, que com o suposto intuito de ajuda-lo o esconde em seu experimento. Quando Hector sai do experimento  percebe que voltou uma hora no tempo. Aí a história fica complexa, porque Hector percebe que existe um outro Hector que vive o que ele viveu uma hora atrás.
  Fugindo totalmente dos clichês, esse é aquele tipo de filme que nós nunca conseguimos ter uma ideia do que vem a seguir. Meu filme preferido sobre viagem no tempo.
  Indispensável para fãs de Sci-Fi.

 Destaque:
  • As sequências não-lineais foram montadas de uma forma inteligentíssima   

Direção: Nacho Vigalondo
Ano: 2007
País de origem: Espanha
Minha nota: 9/10